Como sobreviver sem assinar revistas científicas

Universidades de vários países estão criando novos arranjos para ampliar o acesso à literatura científica depois de suspender contratos de assinaturas com grandes editoras, considerados caros e abusivos. Para atender ao menos em parte as necessidades de informação de seus alunos e pesquisadores, as instituições apostam em ferramentas que ajudem a localizar na internet cópias de papers disponíveis em acesso aberto e no apoio de redes de bibliotecas e de mídias sociais para obter artigos de conteúdo restrito. A Universidade da Califórnia (UC), nos Estados Unidos, por exemplo, anunciou em fevereiro o rompimento com a editora holandesa Elsevier, por meio do qual, a um custo de quase US$ 11 milhões por ano, seus 273 mil estudantes e 68,4 mil docentes e pesquisadores podiam ler documentos publicados em 2,4 mil periódicos. Responsável por cerca de 10% de toda a produção científica norte-americana, a UC pressionava a Elsevier a aceitar um novo acordo, em que fariam parte de um único pacote o preço das assinaturas e as taxas pagas pelos pesquisadores da universidade para publicar seus artigos em acesso aberto em títulos da editora. A Elsevier insistiu em manter o esquema tradicional para a maioria de seus periódicos, cobrando assinaturas e taxas de publicação de artigos e exigindo quantias extras quando o autor quer divulgar seu paper livremente na web.

Sem poder consultar as revistas, a UC reuniu em uma página da internet um conjunto de caminhos alternativos para seus estudantes e pesquisadores. Sugeriu a eles adotar estratégias como a busca de papers em bases de dados acadêmicas, a exemplo do Google Scholar e do PubMed, e o uso de programas plugins, que oferecem funcionalidades específicas em navegadores da internet – nesse caso, localizar cópias em PDF de artigos científicos. Se isso não for suficiente, a recomendação é pedir ajuda às bibliotecas de seus 10 campi, que integram redes nas quais se compartilham artigos e livros, ou então usar redes sociais acadêmicas, em que é possível solicitar trabalhos diretamente a seus autores. “Apoiamos nossos professores, alunos e funcionários empenhados em quebrar as barreiras que impedem o compartilhamento de pesquisas inovadoras”, disse, em comunicado, a presidente da universidade, a advogada Janet Napolitano.

A estratégia da UC não chega a ser original. Recentemente, instituições de ensino superior da Alemanha, da Suécia e da Noruega também decidiram não renovar assinaturas de revistas da Elsevier e adotaram expedientes parecidos. “Essas ferramentas digitais deram às universidades um poder de barganha inédito”, avalia Abel Packer, coordenador da biblioteca de revistas de acesso aberto SciELO Brasil. “Antigamente, cortar assinaturas seria impraticável, pois inviabilizaria o trabalho dos pesquisadores. Hoje, as universidades têm alternativas.” Esse movimento ganhou mais fôlego em setembro do ano passado, quando a União Europeia e agências de fomento à pesquisa de 14 países lançaram o Plan S, iniciativa de alcance internacional que estabelece a partir de 2020 a publicação imediata em acesso aberto de artigos que receberam financiamento público (ver Pesquisa FAPESP nº 276).

 

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

 

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